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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Yoani é um fenômeno

e o governo cubano é o responsável


Foto:Divulgação

Cláudio Galvão da Silva é documentarista e ativista. Dado Galvão, como é conhecido, nasceu em Jequié-BA. Hoje, com 33 anos, é formado em Administração em Marketing pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). Fundador e coordenador da FM Comunitária Vida, emissora de inspiração católica, com uma programação diferenciada e experimental, Dado apoia juntamente com Yoani Sánchez e outros ativistas a liberdade de expressão. Ele é autor do documentário “A fábrica” e, recentemente, produziu o documentário Conexão Cuba-Honduras, no qual Yoani é a personagem principal, que fala justamente sobre ativistas a favor de direitos humanos e liberdade de expressão. Seu próximo projeto é o documentário Missão Bolívia, o que trata do senador boliviano, Roger Pinto, asilado na embaixada do Brasil, na Bolívia. 

Persistente, corajoso e comunicativo, Dado nos falou sobre sua experiência como documentarista e sobre a visita de Yoani Sánchez ao Brasil, que por insistência de Dado, do Senador Eduardo Suplicy e da reforma migratória em Cuba, pode acompanhar o lançamento do documentário. 



L - O que motivou você, um documentarista brasileiro, a fazer um documentário sobre Cuba e liberdade de expressão?
D - O meu histórico envolve liberdade de expressão. Eu já tinha ido a Cuba, em 2008, para apresentar “A Fábrica”, um documentário que eu fiz sobre o conjunto penal da minha cidade. Em 2009, quando voltava para o Brasil, já tinha ouvido falar de Yoani Sánchez, mas nada muito específico. Minha mãe comentou sobre uma reportagem da revista Veja que Yoani falava sobre Cuba. Como eu já havia ido a Cuba, em 2008, fui ler a matéria e o que estava na revista era o que eu tinha visto, em 2008, andando em Cuba. Percebi que não tinha nada de exagero, tudo o que ela falava eu tinha visto. Falei pra minha mãe que queria ir a Cuba falar com ela. Mandei muitos e-mails, mas nunca obtive respostas. Foi quando fiz um comentário no blog dela, na versão espanhola, e alguém me respondeu com o número de Yoani. Assim aconteceu. Aproveitei que as passagens para Honduras estavam bem econômicas fui pra lá. Fiquei 15 dias em Cuba e uma semana em Honduras. 
L - Por que Honduras?
D- Quando eu vi na televisão uma emissora de tevê sendo invadida por militares de Honduras, seus equipamentos sendo jogados na carroceria de uma caminhonete, me lembrei de que já tinha vivido isso em Jequié. Independentemente de tudo meu foco era liberdade de expressão. 
L- Em uma matéria, divulgada pelo portal R7, você cita a reportagem da revista Veja e diz que a revista previu o que aconteceria com Yoani aqui. Você acompanhou a cobertura da mídia brasileira em relação à visita de Yoani Sánchez? Qual imagem a mídia passou?
D- Todo o processo para trazer Yoani foi transparente. Está tudo no meu blog. O que eu pensei foi que iriam dizer que Yoani é representante da grande mídia e tudo mais. Em um primeiro momento, não a levaríamos nem para o Rio nem para São Paulo. O filme seria exibido em Jequié (cidade do interior da Bahia), todos os convites e cartas registradas em cartório estavam direcionados pra lá, mas aconteceu em Feira de Santana porque eu não tive o apoio aqui na cidade. Na verdade, a exibição seria em Vitória da Conquista, que fica próxima a Jequié, uma cidade que tem aeroporto e uma estrutura melhor, mas estranhamente o jornalista que queria levar o evento pra lá teve que cancelar, porque a prefeitura de Vitória da Conquista, prefeitura do PT, retirou o apoio dado a ele. 
Uma das minhas preocupações era a de não dar exclusividade a ninguém. Todo mundo que procurou Yoani pode falar com ela. Mas tiveram alguns veículos que enviaram repórteres exclusivos para acompanhá-la. Se existisse um pequeno jornal de qualquer cidade que queria falar com a Yoani, tinha acesso. Na tevê Senado, o filme está sofrendo uma censura interna, agora pelo programa Mais Médicos, mas também porque o Renan Calheiros e sua turma não querem um tema polêmico. 
L- Então você vê que a mídia deu espaço para Yoani?
D- Sim. Ela ganhou mais espaço a partir dos protestos, dos Chapas Branca, que aconteceram em Recife e em Salvador. Em nenhum momento eles buscaram a via do diálogo com o Suplicy e com Yoani, era sempre na base do ataque. A Carta Capital escreveu “quem é Dado Galvão? Quem é esse cara com certo ar de preconceito?” e falavam que o Suplicy é a Yoani do PT.
L – A vinda de Yoani ao Brasil foi uma dos assuntos mais comentados no Brasil. O que você acha dessa espetacularização da mídia?
D- O grande responsável por esse fenômeno Yoani é o próprio governo de Cuba. A cada vez que eu a convidava, era criado um desgaste no governo cubano. Cada negativa dava visibilidade fora da ilha.
L- Quais eram os objetivos da Yoani no Brasil? Ela conseguiu alcançá-los? 
D- Claro, conseguiu. O que ela veio fazer no Brasil foi falar sobre Cuba, qualquer cubano pode falar sobre Cuba, talvez o Dado Galvão não, mas a Yoani e qualquer cidadão cubano pode falar sua opinião sobre a realidade política de Cuba. Yoani veio falar sobre seu livro, que fala sobre o cotidiano em Cuba. 
L- O que acha dos protestos contra a vinda de Yoani?
D - O que aconteceu em Feira de Santana foi de uma grosseria muito grande, os mesmos caras que estavam em Recife, estavam em Salvador e em Feira. Eram os mesmos panfletos. Tudo o que saiu na VEJA realmente aconteceu. 
Os protestos no Brasil, assim como o governo de Cuba, serviram para dar uma publicidade espetacular a ela e a transformou em uma pop star. Engraçado era que todos queriam tirar foto com ela. 
L- Nós sabemos da importância da Yoani no cenário político de Cuba. E no cenário mundial, qual é essa importância?
D- Ela não era muito conhecida em Cuba, o que deu visibilidade a ela foram as negativas do governo de Cuba. 
L- Quando você viu que queria ser documentarista? 
D- Isso é um grande problema pra mim. É uma coisa que não dá retorno financeiro nenhum. Primeiro, porque eu não vou ficar pensando em projetos me baseando em editais do governo, porque a história passa e os recursos não vêm. Eu faço meus documentários de forma improvisada, poderia ter equipamentos melhores, ter uma grande equipe por trás, mas são histórias que estão esquecidas e ninguém quer “botar” dinheiro, porque envolve política. Minha família é que me ajudava. Isso é vocação. Eu pensava que essa luta da Yoani não ia dar para fazer um documentário, mas eu fiz na forma de mendicância, ajuda da família, do comércio.
L- Sabemos que se leva tempo e dinheiro para produzir um documentário e que você enfrentou algumas barreiras para produzir esse filme. Como foi isso pra você?
D - Na época em que fui para Cuba, trabalhava na secretaria de educação aqui do município (Jequié), a viagem atrasou em um dia, porque a secretária de educação foi resistente, não querendo me deixar levar a câmera da secretaria. Eu falei “olha, depois que eu consegui tudo para viajar, você não vai me deixar levar a câmera? Eu vou anunciar na rádio que eu consegui tudo e a senhora não me deixa levar a câmera”.

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