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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A entrelinha do discurso sobre Yoani

Uma sondagem dos discursos jornalísticos na cobertura da visitante cubana Yoani Sánchez

Yoani atendeu toda a mídia nacional. Foto: Dado Galvão

Yoani Sánchez, a blogueira que já foi premiada diversas vezes por seus artigos e suas críticas sobre a situação social em Cuba sob o governo de Fidel Castro e de seu irmão e sucessor, Raúl Castro, esteve no Brasil, em fevereiro, e, desde sua chegada ao país, enfrentou manifestações ruidosas de uma dezena de simpatizantes do regime castrista, e vários contratempos em seus eventos, e ganhou destaque na impressa brasileira.
Yoani ficou conhecida internacionalmente pelo blog “Generación Y”, em língua portuguesa “Geração Y”, fundado em 2007.

Queremos saber de Cuba
A emissora de televisão pública, Cultura, em relação à Yoani Sánchez, expressou a ideia de saber ainda mais a respeito da ditadura que rege Cuba, através de uma própria habitante do país, para falar do que precisa mudar na sociedade cubana, do modelo castrista de governar, de que modo vivem os cubanos – em relação à saúde, educação, oportunidade de vida. E sobre a blogueira, as perguntas ressaltaram a vontade de descobrir a ideologia defendida por ela – como as realizadas no começo do programa Roda Viva, programa de entrevistas tradicional da emissora, qual Yoani foi a entrevistada. Resultaram na popularização dos pontos de vista de Yoani que, em todas as respostas, ela deixou claro o seu dever em levar a liberdade de expressão aos seus conterrâneos.

Entre o governo e Yoani
Foto: Dado Galvão
Na cobertura jornalística da Rede Globo, sobre a visita da blogueira, foi destacado que Yoani ficou conhecida por denunciar os abusos da ditadura dos irmãos Castro. É notório que a TV Globo mantém um vínculo com o atual governo brasileiro, que possui uma relação especial com o governo cubano. Ao analisar a história da rede Globo, pode-se levar em conta que ela possui vínculos governamentais. Assim, ela não fará o que comprometerá seus princípios. Apresentou a imagem de Yoani sempre como blogueira, ativista de oposição do regime e “popstar”, e não como jornalista e filóloga, que são suas profissões em Cuba. A emissora transmitiu como prioridade as manifestações e os protestos que ocorreram por onde ela passava, mostrando aos telespectadores a imagem de uma visita polêmica, talvez desnecessária, quando a principal causa era a estreia do documentário de que participou “Conexão Cuba-Honduras” e lançamento do livro “De Cuba, com carinho”. Essas informações foram veiculadas, mas não com tanta ênfase quanto os protestos, deixando no ar a ideia de que o Brasil é um país que é contra o comunismo de Cuba.

Os PROTESTOS que ocultaram Yoani
Manifestantes hostilizaram a blogueira
Analisando a cobertura jornalística produzida pelo jornal Folha de S. Paulo, no período de visita da blogueira e dissidente cubana Yoani Sanchez, pode-se perceber que, sem dúvida, o foco do jornal foram as manifestações realizadas contra Yoani, atribuídas aos partidos políticos brasileiros PT e PC do B. A cobertura que, por quatro vezes focou nos protestos, empobreceu o discurso jornalístico, que poderia ter se preocupado mais com o que Yoani tinha a dizer e não foi dito, por exemplo, do que falar unicamente dos protestos; não que esses eventos não tivessem importância. A questão é que toda a produção jornalística da Folha, durante a semana de cobertura, girou em torno de uma temática só: os protestos. Quanto a isso, é conclusivo que houve uma lacuna na cobertura jornalística sobre a passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil, produzida pela Folha de S. Paulo.

A cobertura equânime
Sempre serena, Yoani falou sobre liberdade de Expressão
Foto: Dado Galvão
o jornal Estado de S. Paulo é conhecido por seu conservadorismo e, mesmo sendo o jornal que mais deu voz à ativista, ainda assim não foi o bastante. As manifestações ofuscaram o principal objetivo de Yoani Sánchez no Brasil: divulgar sua cultura e seu trabalho.
Ela foi impedida de realizar uma tarde de autógrafos na livraria Cultura, em São Paulo. Além da exibição do documentário Conexão Cuba-Honduras, que teve que ser cancelado devido a mais manifestações, foram inúmeras delas que a acompanhou nos aeroportos em que Sánchez desembarcou. A ativista saiu de seu país depois de ser impedida mais de 20 vezes, para falar e transmitir conhecimento. Porém, o que encontrou aqui foram mais e mais pessoas tentando calar a sua voz e, assim, ocupando um espaço que deveria ser dela, que deveria ser de voz.
A viajante Yoani
Foto: Dado Galvão
Nas matérias publicadas durante a semana em que a blogueira ficou no Brasil, o Portal Terra divulgou toda a agenda de Yoani, e relatou esses eventos sempre superficialmente, narrando apenas como foi recepção da cubana, o que ela achou do lugar e dos protestos – que estavam presentes em quase todos os eventos. Também foi relatado os próximos países que Yoani visitaria, o prêmio de direitos humanos que ela receberia no EUA. A série de matérias termina com a foto de Yoani tomando água de coco com o título: “Após uma semana, Yoani deixa o Brasil em clima de paz”.
A imagem que fica dessa cobertura é a de que, mesmo dando ênfase às profissões de Yoani – filóloga, jornalista e blogueira -, o portal construiu a imagem da visitante como uma popstar que tentou por diversas vezes sair do seu país, e que estava “passeando” no Brasil, visto que, nas inúmeras matérias publicadas, não se falou sobre o que ela veio fazer no país, quais eram suas intenções; ficando apenas conhecida como a superficial “ativista defensora da democracia”.

O jornalismo prolixo
Foto: Dado Galvão
O portal R7 mostra ser contra a ditadura cubana, ao focar nas manifestações contra Yoani Sánchez e, em quase todas as matérias, resaltar as várias tentativas ‘frustradas’ não só da jornalista, mas de muitos outros ativistas, de sair de Cuba e, ainda, falar sobre a falta de liberdade de expressão e a reforma migratória no país comunista.
O portal também classifica o blog “Generación Y” de Yoani Sánchez como muito elogiado em todo mundo e, ainda, ressalta que a dissidente cubana foi eleita como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, pela revista Time e que seu blog foi eleito, pela rede de TV CNN, um dos 25 melhores do planeta.
Com todas essas classificações, o R7 passa uma imagem de que a cubana é a pessoa prejudicada em toda a história; reforça isso quando fala sobre o dossiê, contra Yoani, implantado no Brasil pelo embaixador de Cuba no país. O documento teria sido distribuído, principalmente, entre funcionários do PT. O portal deu voz à cubana, que considerou o documento como uma “violação” a sua liberdade de expressão e que as manifestações foram um ato de “fanatismo repressivo”.

Ela tem algo a dizer
Foto: Dado Galvão
O discurso da revista Época não focou apenas as manifestações e os protestos. Yoani teve uma voz ativa no veículo, e, da mesma forma, cheio de construções ideológicas. De modo que não a comprometesse, a Época mostrou desde investigações sobre uma influência direta do regime cubano na organização dos protestos até um simples puxão de cabelo que a cubana levou.
Porém, ao terminar, as últimas perguntas são sobre um assunto mais leve, o que sugere uma sutileza estratégica que objetiva fechar o assunto pacificamente, assunto este que trata sobre sua vaidade e seus cuidados com os longos fios de cabelos.

A gladiadora paladina
Capa revista VEJA
A revista semanal Veja levantou uma bandeira abertamente e sem medo de se posicionar. Com o título “A Guerreira e os Fanfarrões” o veículo defendeu uma Yoani Sánchez heroína e vítima da brutalidade dos manifestantes esquerdistas dos partidos PT (Partido dos Trabalhadores) e do PCdoB (Partido Comunista do Brasil).
Utilizando-se de um leque de mecanismos argumentativos, a reportagem principal da edição posicionou-se contra as manifestações em oposição a Yoani; em um ataque velado, sobretudo, ao PT. É explícito, na análise do discurso de Veja, que o alvo de suas publicações é, impreterivelmente, o Partido dos Trabalhadores. É lúcido afirmar então, sob esse prisma, que Yoani para Veja é, definitivamente, a heroína construída na ponta do lápis do chargista de Veja; observa-se na arte da capa que Yoani ameaça o governo da família Castro, tragicamente representado pela figura de um elefante, com a simplicidade de um mouse [figura representativa da inovação tecnológica, o Blog Generación Y, responsável pela última revolução de expressão de Cuba].
Se Yoani teve sua figura construída para atender aos desejos editoriais da revista paulista, é claro que os anseios, objetivos, como do próprio motivo de visita da blogueira ao Brasil, não foram propagados. O que vimos foi um ataque direto aos manifestantes do PT, possivelmente orientados pelo governo de Cuba. Reportagem essa que deu gancho a outra matéria que revelava possíveis escândalos denunciados por Veja na mesma edição; uma sequência inteligente e extremamente persuasiva.
É uma das correntes de nossa investigação a manipulação velada dos veículos de comunicação sobre Yoani Sánchez. Em nenhum dos veículos Yoani foi o centro. A personagem central ora era colocada à esquerda, ora à direita; o desejo da blogueira não foi alcançado. A mensagem simplesmente não teve receptor. O interlocutor foi censurado pelo intermediário: a imprensa. O que Yoani tinha para dizer? Ninguém sabe. Suas palavras foram abafadas pela gritaria dos manifestantes. Seria, todavia, gritaria esta tão alta que um microfone tão poderia superar? Uma mão habilidosa desviou o holofote de Sánchez para a multidão; e o microfone, esse foi desligado para que o barulho conveniente tapasse a boca da visitante cubana.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Agora é a vez do Comulismo?


  A verdade é que a luta de classes sempre esteve muito presente, em todos os tempos, na sociedade, e que o poder está na posse econômica – desde que o capitalismo dominou o mundo. Assim, uma grande discussão acerca do capitalismo e do comunismo existe, com argumentos que constroem ideários que visam defender o mais sensato sistema de governar e, consequentemente, o melhor para as sociedades.
  Há quem afirme, como Karl Marx, Engels e outros filósofos, que o comunismo está presente desde as primeiras sociedades, antes mesmo do desenvolvimento agrícola, quando ainda separadas por tribos, os recursos naturais eram de bem comum – proposta do comunismo. E que o capitalismo começou a surgir com o movimento agrícola, quando o homem que plantava começou a sentir-se o dono das terras e merecedor da maior parte da renda apurada com a colheita. Assim, após a sociedade feudal - que fez a separação da sociedade em classes de poder, a burguesia a separou em classes econômicas.
  Os dois “pregam” ter o melhor para o povo: o capitalismo que dá liberdade para que cada um seja responsável por sua vida econômica; enquanto que o comunismo prega conceder direitos iguais a todos. Porém, saindo da utopia desses conceitos, o que acontece é que o mundo capitalista não dá condições igualitárias para todos, caindo por terra a liberdade de decisão do homem de como será a vida econômica e, de forma clara, o motor da máquina capitalista esmaga àqueles e não o ajuda a manter-se, criando imensa desigualdade social-econômica,  prova disso está no livro Superclasse: a elite que influencia a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, de David Rothkopf: “10% dos adultos do mundo detêm 85% da riqueza global, enquanto a metade mais desfavorecida da população do mundo fica com apenas 1% do total”;. Já o comunismo é, sem dúvida, uma ditadura que não dá ao ser uma liberdade de escolha, de melhoria de vida.
  Por hora, o que parece, é que o sistema que efetivamente facilitaria um equilíbrio econômico é o “comulismo”, uma mistura dos conceitos do capitalismo e comunismo, para obter uma sociedade com, verdadeiramente, direitos iguais a todos, para que, com uma base igualitária, possam buscar esse equilíbrio. 




Natan Lira

A celebridade hollywoodiana

Foto: Dado Galvão
  Entre os dias 18 e 22 de fevereiro, uma cubana roubou a cena na mídia brasileira. Yoani Sánchez, blogueira, ativista e jornalista , virou uma celebridade em visita ao Brasil. Tomou as capas de revistas, manchetes em jornais, destaques em sites de notícias e reportagens de televisão. Quem conhece a dissidente (se não conhece, deve procurar conhecer) sabe que ela não é conhecida em Cuba, talvez pelas diversas repressões sofridas pelo governo dos irmãos Castro. Mas aqui ela ganhou mais destaque do que uma celebridade.
Mas, por que, em um país que glorifica o futebol e abomina a política, Yoani ganhou o destaque que a Copa Libertadores da América, campeonato muito ovacionado pelos brasileiros, não ganhou? Por que o brasileiro foi obrigado a acompanhar a turbulenta passagem de Yoani Sánchez ao Brasil?
Uma das explicações são os critérios de noticiabilidade, de Otto Groth. O critério da proeminência, o qual leva em consideração a importância social do indivíduo ou da nação diante da sociedade; a proximidade, levando em conta onde acontece o fato; significância, que iremos entender que quanto mais intenso e maior abrangência mais probabilidade o fato tem de virar noticia; imprevisibilidade, as manifestações não foram programadas fazendo com que virasse notícia.
O fato de Yoani virar notícia e ganhar destaque nos veículos de comunicação não foi apenas sua vinda para o lançamento do documentário de Dado Galvão, que na verdade mal foi comentado, uma pena, mas sim pelo fato de que Yoani virou um símbolo da luta pela liberdade de expressão em Cuba. Esses relatos frequentes sobre as manifestações e a visita da filóloga nos mostra um discurso que caracteriza a ditadura cubana como uma tragédia fatal do socialismo. 
Poucos têm a coragem que a ativista tem de enfrentar o governo dos irmãos Castro, principalmente tendo como arma um simples blog. Há quem a vê como Nelson Mandela na luta contra o Aparthaide na África do Sul.
Essa espetacularização da mídia com a filóloga, fazendo de uma viagem um verdadeiro reality show, e as constantes manchetes e capas de revistas traz um cenário de libertação, assim como um passarinho que vivia preso na gaiola, uma vez que a blogueira vivia em um, quase, regime semiaberto em seu país, não podendo sair de Cuba nem para ver amigos. 








Marcelo Souza

Protestar ou não?

  
Foto: Dado Galvão
  A cubana Yoani Sánchez é uma pessoa que, pode-se dizer, respeitada por muitas pessoas em diversos países. Ela tem o poder da palavra e assim se expressa através de um blog que, com a ajuda de amigos, faz suas postagens. Isso acontece, porque, em Cuba, Yoani foi proibida de expressar sua opinião.
  No início de 2013, a cubana recebeu uma liberação para sair do país e viajar por diversos países por cerca de 90 dias. O primeiro país escolhido foi o Brasil, tendo relação com a ajuda que o Brasil dá a Cuba ou não. Permaneceu aqui do dia 18 de fevereiro à 25 de fevereiro. Durante esse tempo ela foi alvo de aplausos, críticas, elogios e até puxões de cabelo. Houve muitos protestos em aeroportos e em eventos que Sánchez participou, em um desses tentaram até mesmo calar a sua voz. 
  Um erro. Um grande erro. Por que no país da liberdade de expressão quiseram calar a voz de uma figura tão importante para o cenário político mundial? A própria Yoani elogiou a liberdade de expressão presente no país, só que quando isso parte para a violência, é preciso ser analisado. 
  Logo em sua chegada ao Brasil, no dia 18 de fevereiro de 2013, ao desembarcar no aeroporto de Recife foi recebida por amigos e também por vários protestantes. Estes carregavam faixas dizendo que Yoani traiu o movimento e recebeu dinheiro do Estados Unidos para se voltar contra Cuba. A acusaram também de ser uma agente secreta e disfarçada da CIA.
  No dia 21 de fevereiro de 2013, Yoani Sánchez participou de um encontro com cerca de 30 blogueiros na Livraria Cultura, em São Paulo. Quando o encontro foi aberto ao público, para que o mesmo pudesse participar da entrevista com a blogueira, ela foi alvo de diversos protestos. Os protestantes carregavam consigo cartazes e pediam a revolução, glorificando Fidel Castro e o regime cubano.
  Esse protestos foram capazes de ofuscar a vinda de Yoani Sánchez ao Brasil. Foi possível notar que os noticiários focaram muito (muito mesmo) nos protestos, muito mais do que na própria cubana. Acredito que a mesma tenha vindo aqui para expor a suas ideias e ideais, mostrar ao Brasil um novo mundo, mostrar como é viver em um país sem liberdade, tão diferente daqui. Repito em dizer que foi um erro, um erro enorme. Por que não acolher um conhecimento de fora? Cultura, sabedoria, opiniões! Porque além das vozes, cartazes e puxões de cabelo como forma de protesto, é necessário ouvir, coisa que metade das pessoas que foram ver Sánchez não souberam fazer. É necessário ouvir, questionar e, acima de tudo, absorver conhecimento. 





Gabriela Oliveira


Yoani Sánchez e a Liberdade de Expressão

 
Foto: Dado Galvão
  Yoani Sánchez, com 38 anos é filóloga e jornalista cubana. Licenciada em Filologia em 2000 na Universidade de Havana, alcançou fama internacional e numerosos prêmios por seus artigos e suas críticas da situação social em Cuba sob o governo de Fidel Castro e de seu sucessor, Raúl Castro.
Por meio do seu blog Generación Y, no ar desde abril de 2007, com dificuldades, porque não pode acessá-lo de casa, e, por isso, definiu-se como uma blogueira "cega", Yoani ficou conhecida internacionalmente. A revista Time a incluiu em sua lista de "cem pessoas mais influentes de 2008", dizendo que "debaixo do nariz de um regime que nunca tolerou dissensão, Sánchez exerce um direito não garantido aos jornalistas que trabalham com papel: liberdade de expressão”.
  No blog Generación Y, trabalhando como webmaster, escritora e editora do portal Desde Cuba, sempre teve ajuda de colaboradores da revista cubana Consenso. Em seu blog, que rapidamente ganhou a atenção de milhares de pessoas ao redor do mundo, Yoani afirma que desde março 2008, apesar de muitos motivos que poderiam impedir o desempenho de seu blog, pois o governo cubano programou um sistema de filtragem de acesso que impossibilita que o blog seja acessado em Cuba. Desde então, ela conta com uma rede de colaboradores que atualizam o blog, motivo esse pelo qual, pode se dizer, cada vez mais sentir-se fortalecida para continuar. O blog é traduzido em quinze línguas.
  Que a blogueira é influente e faz diferença em Cuba, nós já sabemos, mas com essa dedicação ao seu trabalho, será que ela esquece  sua vida pessoal? 
  Não é o que parece, em tese, com algumas características marcantes, isto é, seus longuíssimos cabelos ondulados estão, como de costume, ajeitado ao longo do corpo. Ela deseja que eles sejam tão “independentes e livres como eu”. Já no rosto, nada de maquiagem. Nas orelhas, brincos com as letras G e Y, formando o logo de seu blog, Generación Y. No pulso, uma fitinha do Senhor do Bonfim, sinal de sua passagem pela Bahia.
  Em entrevista: “Yoani revela que já teve um visual bem diferente: "De 1992 a 1994, raspei a cabeça. Primeiro porque era a época de Sinéad O’Connor (cantora irlandesa que tinha o cabelo raspado) e estava na moda. Mas também porque Cuba vivia uma crise econômica tão grande com o fim da União Soviética que conseguir xampu era quase impossível. Em meio a esse colapso, houve um surto de piolho. Para não ter esses problemas, raspei". 
  Yoani diz que não se maquia e não faz as unhas. Mas isso não quer dizer que não seja vaidosa. "A minha vaidade se reflete em outra coisa. Mais que a vaidade física, não passo minha vida vendo as coisas que não escolhi, compreende? São coisas que não selecionei. Uma é o meu corpo. Veio assim..." A blogueira afirma que ter sido adolescente em um período econômico muito difícil em Cuba a fez aprender a viver sem desejar muitos bens materiais. "Tenho vivido sem nada, sei que posso sobreviver sem nada e sigo sendo eu mesma.     Posso ter muito pouco, porque o mais importante está desta pele para dentro”.
A blogueira segue um estilo de vida segundo o qual se as pessoas vão aceitar ou rejeitar seu estilo de vida físico e/ou sua vaidade, não a afeta.





Paula Dias

Passou batida pelo Brasil

Foto: Dado Galvão

  Quem é Yoani Sánchez? De onde vem, para onde vai, por que vem? Em nome de quem? Em nome de quê? Essas são perguntas básicas que fiz a uma meia dúzia de indivíduos de sexo, faixa etária e poder aquisitivo diferentes. As respostas distanciaram-se e aproximaram-se: na ignorância.

  Se o cidadão comum não foi capaz de estabelecer uma imagem concreta de Yoani, isso não significa outra coisa senão uma trapalhada tremenda, e que o quebra-cabeça oferecido pelos veículos de comunicação aos brasileiros tinha peças erradas. O resultado foi o de um mosaico horroroso, peças que ou não se encaixam ou que não combinam formando figuras grotescas, algo entre o infernal e o angelical, mas sem harmonia alguma. Enfim, uma descomunicação.
  Comunicação, é uma palavra derivada do termo latino “communicare”, significa “partilhar, participar algo, tornar comum”. Fica a pergunta: houve comunicação nesse caso de Yoani? Não, e não há sombra de dúvida.
  Comunicação Social, segundo o dicionário Aurélio: consiste em “sistemas de transmissão de mensagens para um público vasto, disperso e heterogêneo. Essa designação abrange essencialmente os chamados órgãos de informação de massas das áreas da imprensa periódica, rádio, televisão e cinema”.
  Se o cidadão comum é único, a informação não deveria ser, por conseguinte, igualmente feita de uma maneira única?
  Há uma aproximação desse conceito com a prática de jornalismo online, que dá ao internauta a opção de uma leitura prática, não linear e que oferece caminhos alternativos para um leitor muito ou pouco interado do assunto que está lendo.
  Para essa pergunta serve uma resposta errada, característica de uma falha de comunicação, que é o que acontece com a mídia brasileira, que falhou desastrosamente em sua cobertura da semana de Yoani Sánchez no Brasil.  
  Pergunta: [...] de que forma essa comunicação deve ser feita? Resposta: Acuma?






Lucas Eliel

A Conexão Cuba-Honduras

  A cubana Yoani Sánchez criou, em 2007, o blog “Generacion Y”. Desde então, passou a ser proibida de sair de Cuba pelo governo do país. Em 2012 foi anunciada a reforma da lei migratória, que permitiria cubanos a viajar sem ter que pedir a autorização de saída, a partir de janeiro de 2013.
  A vontade de viajar renasceu em Yoani, que teve mais de 20 pedidos negados ao longo dos últimos cinco anos. Depois de três tentativas frustrantes, Yoani colocou o Brasil como o primeiro país a visitar, por conta da mobilização promovida por Dado Galvão, o jovem documentarista, que ganhou páginas e sites de notícias ao redor do mundo. Tudo por se sensibilizar com a luta da blogueira. Vendo a dificuldade de a cubana sair de seu país, Galvão empenhou-se em trazê-la ao Brasil para o lançamento de seu documentário.
  Desde 2009, quando esteve na ilha filmando o documentário “Conexão Cuba Honduras”, Galvão empenhou-se, mobilizou políticos, teve pedidos frustrados, principalmente daqueles que não acharam conveniente abraçar uma causa que fosse tão delicada em relação ao governo de Cuba. Mas o documentarista, que se denomina militante, alcançou seu objetivo. Yoani desembarcou na segunda-feira (18/02/13) na cidade de Feira de Santana, na Bahia, para assistir ao documentário.
  Mesmo com críticas e tentativas para que desistisse, Galvão conseguiu ganhar repercussão e levou o assunto para a imprensa e, por meio do senador Eduardo Suplicy, ganhou voz também no Senado.
  O documentário com duração de 1h48min aborda, entre outros temas, a violação dos direitos humanos e da liberdade de expressão na ilha caribenha, a partir de casos como o da blogueira, do jornalista hondurenho Ésdras López, do movimento Damas de Branco, que também é do país de Fidel, e do senador Eduardo Suplicy (PT), que também é personagem do filme, por ser membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, tendo como protagonista a blogueira dissidente Yoani Sánchez, que foi entrevistada em Cuba por Dado Galvão. A partir desse dia, a blogueira chamou a atenção do cineasta, por narrar o cotidiano de Cuba, mesmo com toda dificuldade estrutural. Outra parte do documentário é dedicada aos flagrantes do golpe militar de 2009, em Honduras, com abordagem da invasão e retirada do ar do Canal 36, com o presidente Manuel Zelaya sendo deposto do cargo.
  Galvão tinha pouca liberdade em suas gravações em Cuba. Depois que fez as imagens das Damas de Branco, ele quase foi expulso. Teve então que decidir se iria seguir com o equipamento para Honduras, e assim se limitando, pois já tinham colocado alguém no pé do documentarista. Com isso, ele teve apenas a estratégia de fazer contatos e guardar tudo que tinha em arquivos, caso alguém ficasse com a câmera. Talvez essa fosse a maior dificuldade encontrada em meio de suas gravações.
  Galvão não só utilizou as redes sociais para se mobilizar, abrindo campanhas de vaquinhas eletrônicas, mas também as utilizando para responder suas críticas, lançadas por milhares de internautas contra sua atitude de querer a visita da blogueira no Brasil. O mesmo foi criticado e desencorajado por diversos e-mails neste sentido, mas sempre conseguiu manter um diálogo com as pessoas, dizendo que não é uma oportunidade para que Yoani seja somente paparicada, mas também questionada sobre todas as dúvidas relacionadas a ela. Sendo assim, Galvão foi mais ativista do que documentarista. E relata que a vinda de Yoani Sanchez ao Brasil, para ele, foi como se tivesse ganhado um Oscar.

 Maria Almeida